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Inteligência Artificial e Psicoterapia

  • julouback
  • 7 de set.
  • 3 min de leitura

Segundo uma pesquisa recente da Universidade de Harvard, os dois maiores usos da IA são para terapia e para companhia (conversar com alguém).


O que estamos vivendo atualmente é um fenômeno de popularização massiva — um verdadeiro boom — que trouxe a IA para o centro das atenções, mesmo sendo uma tecnologia presente em nossas vidas desde a década de 1960.


O que mais chama a atenção nas IAs conversacionais é que elas trouxeram à tona o debate de que muitos profissionais e profissões poderiam ser substituídos pela IA em um futuro próximo. E a psicoterapia entra nesse debate. Mas, afinal, o que é fazer psicoterapia?


A psicoterapia é um campo de conhecimentos teóricos e técnicos, além de uma prática de intervenção sustentada por esses conhecimentos, que se desenvolve em um relacionamento interpessoal (Conselho Federal de Psicologia, 2022). Isso significa que, na prática, o uso do conhecimento teórico e técnico é baseado na ciência e, através dele e do relacionamento estabelecido, as mudanças na vida do paciente ocorrem.


No caso da IA, é o paciente quem conduz a interação: ele traz os pontos e faz as perguntas; a IA apenas responde às demandas. Já na psicoterapia, embora o paciente tenha participação ativa, é o profissional quem direciona o processo a partir dos objetivos definidos no início do tratamento. O processo de mudança ocorre não apenas por um modelo teórico, mas também por um processo prático. Não basta dizer ao paciente o que ele tem que fazer; ele precisa agir.


Não há como alcançar resultados terapêuticos se o psicólogo se limitar a ouvir e responder perguntas. Enquanto a IA oferece respostas pontuais ou estratégias imediatas para lidar com um problema, o psicólogo trabalha para ajudar o paciente a compreender e desconstruir padrões mais profundos, promovendo mudanças consistentes e duradouras. Esse processo é estruturado, baseado em ciência, e envolve acompanhamento constante, não apenas a entrega de um “passo a passo”.


Mas, afinal, por que conversar com o ChatGPT não é fazer psicoterapia?


A psicologia clínica não se resume a validar tudo o que o paciente traz, como as IAs tendem a fazer. Pesquisas indicam que esses sistemas costumam ser excessivamente complacentes com os usuários — um fenômeno conhecido como “problema da bajulação”. Em vez de questionar ideias de forma crítica, como um psicólogo faria, o ChatGPT, por exemplo, não consegue distinguir uma crença disfuncional da realidade. Isso pode gerar sérias consequências: reforço de distorções cognitivas, validação de comportamentos inadequados, minimização de condutas de risco e até o fortalecimento de ideias paranoides.


Vieses e respostas inadequadas também são um risco: a IA pode apresentar preconceitos, como em relação a pacientes com transtorno por uso de substâncias ou esquizofrenia. Esse viés é gravíssimo e pode resultar em respostas pouco acolhedoras e estereotipadas. Além disso, a IA pode propagar desinformação sobre saúde mental e até “alucinar”, ou seja, inventar informações que não existem, o que é especialmente perigoso para pessoas em momentos de vulnerabilidade psicológica.


Outro ponto: ChatGPT dá conselhos; psicólogos não. Dar conselhos reforça crenças de incapacidade e comportamentos de dependência, dificultando que o paciente desenvolva habilidades de resolução de problemas (auto eficácia). Na terapia, o objetivo central é promover a autonomia do paciente, fortalecendo sua capacidade de reconhecer os próprios processos de pensamento e comportamento, para que ele construa critérios internos de tomada de decisão. A função do psicólogo é conduzir esse processo de forma ética e estruturada.


O psicólogo interpreta o que não é dito. Sistemas de IA, por mais avançados que sejam, não têm compreensão emocional; não conseguem interpretar um silêncio, uma micro expressão ou uma lágrima escorrendo.


O psicólogo tem julgamento clínico; a IA não. Ela não possui discernimento para identificar certas emergências psicológicas. Estudos mostram que IAs falham em detectar sinais de ideação suicida e, muitas vezes, respondem de forma inadequada. Já o psicólogo, ao perceber esses sinais, entra em contato com a família do paciente ou com o contato de emergência fornecido no início do tratamento.


Por isso, conversar com a Inteligência Artificial é apenas isso: conversar com a Inteligência Artificial. Isso não é — e talvez nunca venha a ser — fazer terapia.

 
 
 

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